Dulce María concedeu uma entrevista impactante ao podcast Un Elefante En La Habitación, da Marie Claire, em que falou, principalmente, sobre saúde mental. Em um dos trechos, a mexicana afirmou que não estava em seu melhor momento físico e emocional, mas topou o desafio mesmo assim. “Foi a melhor coisa que me aconteceu”. Será?

Ainda assim, ela praticamente descartou a continuidade do projeto falando em “feridas abertas”.

Nos últimos tempos, são muitos os relatos de artistas que, ao contrário do que acontecia no passado, não tratam o palco como cura, e sim como um ambiente insalubre de pressão emocional e psicológica. Tini, por exemplo, se afastou dos palcos neste ano para “respirar”.

Há um ano, ela teve uma crise de ansiedade e desabou durante um show na Espanha: “Há três semanas eu via muito, muito longe a ideia de poder voltar a subir a um palco e foi uma meta que coloquei na minha cabeça. E poder estar aqui é uma vitória. Graças a vocês que me brindam com tanto amor”.

O momento foi refletido nas letras do álbum Un Mechón de Pelo, o melhor de sua carreira como solista e, ao mesmo tempo, o mais triste deles. Profundo, desolador, impactante.

No começo de 2023, Manuel Carrasco confessou que teve alguns episódios de síncopes, desmaios sem explicação, provocados por estresse e “cobrança pessoal”. Nicky Jam, Daddy Yankee, e muitos outros já chegaram a anunciar aposentadoria por não suportarem mais a pressão do showbusiness. J Balvin já falou diversas vezes sobre as dificuldades emocionais que enfrentou durante a carreira.

A própria Anitta já afirmou que pretende deixar o mundo de glamour o quanto antes. E isso citando apenas os que me vêm à memória de imediato, sem uma busca aprofundada.

A fama é tentadora. O dinheiro mais ainda. No entanto, é indiscutível que o mundo atual, que submete a julgamentos e padrões de beleza e comportamento inalcançáveis os que estão sob holofotes, transformou a sinergia de artista e público sobre os palcos, antes terapêutica, em um ambiente, por vezes, insalubre.

Ainda que evitem a superexposição, as redes sociais transformaram seus cotidianos em livros abertos. É claro que o nível de exposição ainda é uma escolha pessoal, mas há muitos outros coeficientes nessa questão. O mercado de números, por exemplo, é um deles. Números, cifras, charts, tops…. viver de música deixou de ser apenas lançamento-divulgação-shows. É preciso performar, seja nas plataformas digitais ou em estádios lotados.

Já perceberam que o sucesso de uma turnê deixou de ser medida pelo número absoluto de espectadores para a quantidade de sold outs que ela tem? Um show lotado, mas não esgotado, deixa a sensação de “bleh” nos artistas e nos fãs. Tem que vender até o último espaço de grama de um estádio, senão é flop. É justo?

De maneira geral, a indústria musical se tornou sufocante. Dá dinheiro, mas tira saúde mental. Dá fama, mas tira paz.

Parte da culpa, além do mecanismo natural do mercado, está na competição dos fãs. Sim, está em nós. Fãs, imprensa. No fomento de rivalidades, na cobrança desmedida, no hate inexplicável. Recentemente, citei esse ódio gratuito a artistas como Jão e Mäneskin, que precisam fazer dez vezes mais e melhor para terem o reconhecimento e, nem sempre, conseguem convencer quem os ataca gratuitamente.

O caso da Dulce María e do RBD é emblemático porque a tour foi um sucesso, mas ainda assim os integrantes saíram brigados, a relação ficou estremecida e o projeto foi pausado no meio. Mesmo com estádios lotados e fãs absolutamente entregues, a cada entrevista a gente percebe que foi mais sacrificante do que gratificante.

É hora de repensar o game.

É hora de repensar atitudes.

Artistas não são santos, figuras imaculadas, nem mesmo perfeitos. E é justamente por isso que a cobrança precisa ser na medida.

Em algum momento, o mercado passou do ponto.

Hora de retroceder.

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