Vamos de relato pessoal? Talvez já tenha feito alguns sobre Måneskin nos últimos anos, mas esse é especial: o quarteto de Roma já está em solo brasileiro à véspera de sua primeira apresentação no Rock In Rio, nesta quinta-feira, 8 de setembro. No dia seguinte, será a vez de São Paulo acompanhar a banda.

Era meados de 2017 quando começamos a acompanhar a jornada de Damiano David, Victoria D’Angelis, Thomas Raggi e Ethan Torchio no X Factor Italia. E dá para dizer que foi amor à primeira vista – ou à primeira audição. Havia ali uma sinergia incomum, ares de superestrelas em garotos ainda adolescentes.

Curiosamente, na final do reality show, estávamos na Itália, em férias. Vimos o segundo lugar em Florença, impactados com a vitória de Lorenzo Licitra que, embora talentoso, não tinha lastro para uma carreira sólida como que a vimos Måneskin galgar single a single, disco a disco, nos meses e anos seguintes. A história comprovou que nossa torcida, a minha muito mais efusiva, estava certa.

A verdade é que a Itália é o Brasil que parla. Purtroppo parla. E, muitas vezes, non sa di che cazzo parla. Politicamente à direita, a tradicional família de bem italiana não estava preparada para a liberdade lírica, visual, melódica e artística dos quatro músicos. Uma mulher baixista, livre. Um frontman ousado, arrogante no melhor sentido da palavra (sim, acreditem, existe). Um baterista enigmático, um guitarrista à moda dos anos 1960. A Itália não estava pronta para ser “colonizada” por tanta audácia e atrevimento.

A virada chega com o convite de Amadeus para o Festival de Sanremo em dezembro de 2020. Certas previsões nós deveríamos gravar e deixar para a posteridade. Quando saiu a lista, minha primeira reação foi: Måneskin ganha Sanremo e ganha o Eurovision Song Contest. Nem a minha família, fã do grupo, botou essa fé toda. A minha sempre foi cega. E a razão é muito simples: eles têm a insolência das lendas, dos imortais, dos inesquecíveis.

Meses depois, minha profecia, por assim dizer, se cumpriu. Diante de Fedez, Francesca Michielin e Ermal Meta, arrebataram o Teatro Ariston. E, em seguida, foram a Roterdã mostrar que a Itália tem mais do que tenores em seu vasto leque musical. O que não dava para prever é que, na era do TikTok, ao mesmo tempo em que conquistavam europeus, o mundo se abria para uma versão requentada de Beggin’ e à inédita I Wanna Be Your Slave de forma simultânea, mostrando dois mundos de Måneskin.

Há uma certa parcela das pessoas, na qual me incluo, talvez por questões etárias, que torce o nariz para os fenômenos da rede social, que foi fundamental para que os italianos viralizassem mundo afora, mas acabou engessando seu repertório global ao lado mais americanizado. Por sorte, o país que mais consome Måneskin fora da Itália é o Brasil. E o Brasil é a Itália que fala.

Aqui, o repertório do fã é o bom rock cantado em italiano. Não é uma crítica às músicas em inglês. Até o momento, e precisamos de um disco posterior ao fenômeno para comprovar isso, as músicas “anglo” estão ali para temperar, mostrar versatilidade. Contudo, o que ansiamos ver é o coro nas faixas clássicas na língua nativa do quarteto. Talvez, no Rock in Rio, eles precisem apostar nos hits do TikTok e tá tudo bem. Em São Paulo, na terra mais italiana do país, por favor, que venham Vent’anni, Coraline, Moriro da Re, La Paura Del Buio e por aí vai.

Eu assino esse texto como fã, não como jornalista. Em quase oito anos de LatinPop Brasil, só vivi esse sentimento com Laura Pausini: acompanhar um show nessa linha tênue que separa o profissional do pessoal. Ainda assim, com a bagagem de todo esse tempo vivendo de música de idioma de origem latina, asseguro que Måneskin é o maior fenômeno que já passou por aqui na última década. Aqui, palavra de jornalista.

A jornalista que desistiu de credencial, de burocracia, de protocolos, e decidiu viver esse momento como ele deve ser vivido: na pista, fã com fãs, ao lado da família que testemunhará a história da música italiana sendo escrita no Brasil. E viverá, como família, um dos momentos mais emocionantes da nossa história.

Acompanhar essa jornada desde o dia 1 foi um privilégio. Privilégio maior ainda é ver que o sucesso só aumenta, o número de fãs de verdade também. Encontro vocês no Espaço das Américas (ou Espaço Unimed). Como uma loudkid a mais.

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