Assim que saíram os preços para a única apresentação da Karol G no Brasil com a Mãnana Será Bonito Tour, em 9 de maio de 2024, começou a chuva de críticas aos valores aplicados pela Live Nation, organizadora do evento no país. E é preciso explicar as muitas camadas dos ingressos que variam entre R$ 280 a R$ 890.

Primeiro: casa fechada e público “reduzido” inflacionam qualquer show. A conta precisa fechar e o ticket médio entra na equação para que a produtora não fique no prejuízo. Ainda que alabada pelo mercado de números, pela crítica e pelo público lá fora, essa é a primeira apresentação da colombiana no Brasil e, por aqui, há quem a considere uma aposta incerta.

Particularmente, acho a mais certeira das “contratações” dos últimos anos, inclusive em comparação com Rosalía em termos de mercado. E, sendo assim, prevejo um sold out rápido a partir da quinta-feira, quando a bilheteria será aberta.

Segundo: Karol G é uma artista da prateleira de cima do mercado global da música, estourando a bolha latina em muitos países, incluindo os Estados Unidos, onde esgotou diversos estádios. Portanto, é uma atração cara para qualquer bolso.

Causa estranhamento, nesse contexto, que o local escolhido tenha sido o Espaço Unimed, onde cabem oito mil pessoas. Carolina, atualmente, tem mais poder midiático do que J Balvin, por exemplo, que tocou no Allianz Parque no ano passado. O local estava com a formatação reduzida, mas ainda assim comporta mais público e, consequentemente, diminui o valor do ingresso. Essa é uma conta muito simples.

Talvez tenha sido conflito de agenda. Talvez tenha sido o medo.

O temor de um show esvaziado, conta no vermelho, rombo orçamentário levam os empresários do mercado de entretenimento no Brasil, pouco afeitos ao nicho latino, a fazerem apostas baixas. Entre um estádio e uma casa fechada, vão no lugar seguro.

E equivocado.

Karol G poderia ter o Allianz Parque. Deveria, inclusive.

Com ingresso caro, pode ser que muitos dos seus fãs de outros Estados não consigam ir ao Espaço Unimed. Além do bilhete, pesam deslocamento e hospedagem no bolso. Fosse no Allianz, mais barato pela lógica simples de mercado, talvez o evento ficasse economicamente mais atrativo.

Hoje em dia há também essa insensata busca pelo sold out. Não colocar a sinalização de entradas esgotadas virou sinônimo de fracasso, e nem sempre é isso. Ou fazer um show no Allianz para 20, 25 mil seria uma falha?

As produtoras temem o mercado latino. Não estudam o mercado latino. Esvaziam o mercado latino no Brasil. Basta lembrar que no ano passado, no mesmo dia do J Balvin, teve show da Tini em São Paulo. Dois eventos de público nichado que teve de optar por um ou outro. Nenhum dos dois lotou.

E essa bola de neve só aumenta a cada estratégia errada adotada pelas organizadoras de eventos, produtoras e gravadoras. Rauw Alejandro é mais um exemplo do que não deve ser feito: virá ao Brasil com uma promoção pífia, na esteira de uma relação amorosa, sem a consistência de uma consultoria sobre seu impacto no país. Qualquer pessoa que entenda minimamente do mercado sabe que, apesar de mediana (no sentido de capacidade), a Vibra São Paulo ainda é grande demais para seu público aqui. E distante, com graves problemas para locomoção e logística. A Audio seria o lugar ideal.

No Brasil, hoje, quatro artistas latinos têm cacife para estádios: Shakira, Karol G, Rosalía e Bad Bunny. À exceção da veterana colombiana, os demais só terão essa oportunidade dentro de muitos anos por pura covardia e falta de conhecimento do mundinho das latinidades.

No mais, o inflacionamento no mercado de entretenimento no Brasil é geral e falamos sobre isso quando os valores da tour do Maneskin foram anunciados, ainda em março. Leia aqui. Basta lembrar que nesta mesma terça-feira, ainda sem line-up, o Lollapalooza Brasil divulgou sua tabela onerosa, inflacionada e descabida, mas ninguém reclamou porque não é latino, não é mesmo?

Fato é que essas discussões e falta de tato com os artistas que hablan español só atrapalha as inúmeras tentativas de furar a bolha e, de uma vez por todas, se estabelecer como um nicho rentável no Brasil. Ainda há muito para caminhar.

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