O anúncio do show de Bad Bunny no Brasil vai acontecer nas próximas horas. E embora para muita gente a demanda seja uma incógnita, quem vive esse mercado sabe o que a chegada de seu maior ícone representa: uma nova “era de ouro” para a música latina no país.
Lembra muito o período vivido entre 2015 e 2018, com Maluma e J Balvin, à época “apadrinhados” por Anitta. Ainda teve o fenômeno Despacito, de Luis Fonsi, que colocou as músicas em espanhol de volta nas nossas rádios. Foi uma época dourada. Tivemos o retorno de Enrique Iglesias. Abraham Mateo, Tini, CNCO, Pedro Capó, Sebastián Yatra, e até a Karol G do Velho Testamento eram figurinhas carimbadas por aqui, seja para viagens promocionais, feats ou shows. Lembra também os anos 1990 e 2000, com Thalía, Alejandro Sanz, RBD, e tantos outros.
2025 tem o mesmo tempero, mas com uma mudança significativa: o fenômeno é orgânico. E talvez por isso, a sensação é de que, desta vez, não será efêmero.
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Bad Bunny está causando essa comoção sem nenhum dueto brasileiro. Rauw Alejandro, que se apresentará no fim do ano em São Paulo, idem. Rosalía, que veio há dois anos, foi a pioneira deste movimento. E a agenda tem ficado cada vez mais distante do mainstrem, da necessidade do mercado de números. Mon Laferte esteve por aqui em março. Andrés Calamaro veio no mês passado. A revelação Iñigo Quintero acaba de fazer sua estreia em São Paulo. O veterano Kevin Johansen trará sua turnê para três shows nesta semana em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Ca4triel & Paco Amoroso fizeram do Lollapalooza uma vitrine para voltar ao país em setembro. Quem conhecia o dueto antes do festival?
À exceção de Shakira, responsável por abrir um ano mágico para a música latina no Brasil em fevereiro, os demais ou estreiam, ou atingem um público cativo, mais alternativo e fiel.
Pela primeira vez na história, a música latina não está escorada em nada para fazer sucesso. Antes eram as novelas, a TV aberta. Depois, a abertura de mercado teve as mãos e os pés da Anitta. Hoje, ela está acontecendo por si. É claro que as plataformas digitais são essenciais para esse momento. Debí Tirar Más Fotos, o álbum do Bad Bunny, viralizou no TikTok, mas já era aclamado antes disso. A música está acompanhando a evolução da nossa maneira de nos comunicarmos com o mundo.
Há, contudo, um cuidado primordial nessa retomada: a precificação dos shows. Rauw Alejandro falhou e acabou virando piada com meet & greet de quase R$ 15 mil. Bad Bunny precisa ser mais acessível para lotar o Allianz Parque.
O público latino no Brasil é diferente, oriundo em sua maioria dos sucessos do SBT, que foi expandindo seu repertório a outros artistas. Está mais para o fã de diva pop do que para o séquito cult de Caetano e Bethânia ou Paul McCartney, por exemplo.
Bad Bunny furou essa bolha, eu sei, tem seguidor em toda parte, de todas as classes, de todas as idades. É cool ouvir El Conejo Malo, mas ainda assim é preciso uma estratégia bem cuidada para que essa seja a primeira de muitas visitas, não a única vinda ao Brasil.
De todas as maneiras, o anúncio de logo mais é um enorme VENCEMOS para todos os vivemos de música latina no Brasil.