Dulce María foi duramente criticada no início da semana após revelar a capa de Origen, álbum que chegará ao mercado nesta sexta-feira, 22 de outubro. Na imagem, ela aparece caracterizada como índia, configurando apropriação cultural.
Com a polêmica armada, a RBD mostrou uma portada alternativa para seu novo trabalho e os fãs rapidamente pediram para que a artista esquecesse a arte anterior e usasse a nova para promover o álbum.
Em entrevistas, DM avisou que parte do lucro de Origen será doado a associações indígenas, mas nem assim parte de seu grupo de seguidores se acalmou.
A apropriação cultural ocorre quando uma pessoa ou grupo social hegemônico em uma sociedade passa a reproduzir comportamentos, hábitos, vestuários, objetos, linguagens de grupos sociais marginalizados. Essa prática desinveste o significado sagrado ou político que esses últimos conferem aos elementos culturais, substituindo-os por outros significados, geralmente ligados ao entretenimento e à estética, promovendo o esvaziamento e colonização desses elementos sem, em contrapartida, gerar benefícios ao grupo que produziu aquela cultura.
Quando elementos culturais não brancos são retratados de maneira caricata e estereótipos são reforçados, há a perpetuação do racismo e o esvaziamento do potencial político quando tais elementos são reduzidos a propósitos comerciais.
O que é apropriação cultural?
Conforme definição do antropólogo Rodney William |1|: “a apropriação cultural é um mecanismo de opressão por meio do qual um grupo dominante se apodera de uma cultura inferiorizada, esvaziando de significados suas produções, costumes, tradições e demais elementos. É uma estratégia de dominação que visa apagar a potência de grupos histórica e sistematicamente inferiorizados, esvaziando de significados todas as suas produções, como forma de promover seu genocídio simbólico. Apropriação cultural e racismo são temas imbricados”.
Apropriação cultural consiste em adotar elementos específicos de outra cultura fora do seu específico contexto e significado. Esse assenhoreamento pode se dar no campo do comportamento, da linguagem, da estética, das artes, da música, da religiosidade, da técnica e conhecimento, enfim, de múltiplos aspectos culturais.
A discussão sobre apropriação cultural não é, como aparenta, um purismo cultural pelo qual só podem usufruir de artefatos ou elementos produzidos por uma cultura aqueles que participaram em sua criação. A questão, conforme a pesquisadora de relações raciais Suzane Jardim, é a relação entre grupos hegemônicos e marginalizados, historicamente marcada por etnocentrismo, preconceito e exclusão. Nesse contexto, a apropriação por grupos hegemônicos dos elementos culturais dos grupos subalternizados ressoa como uma nova faceta dessa experiência histórica de dominação.
A ideia de apropriação cultural não deve ser encarada no campo da individualidade, mas como uma questão estrutural relacionada à sociedade de forma sistêmica. A questão que se coloca é que o uso de determinados elementos culturais fora de seu contexto pode ser desrespeitoso com aquele grupo social, ou a imitação pode soar pejorativa e caricata.
Outra reflexão comumente feita é o fato de determinadas culturas não serem bem aceitas por um grupo cultural dominante, porém, em situações de apropriação cultural, traços de sua cultura se tornarem palatáveis àqueles que rejeitam seu grupo originário pelo simples fato de estarem sendo utilizados por pessoas de fora desse grupo.
Fonte: Brasil Escola