Além do fã-clube e dos seguidores mais ardorosos da música latina, alguém mais aqui no Brasil sabe que Juanes lançou seu novo single, Gris, na última quinta-feira (2)? A canção sequer mereceu uma menção no apanhado semanal de estreias internacionais que sua gravadora dispara aos veículos de comunicação.

Ganhador de 27 prêmios Grammy, entre anglo e latino, o colombiano é um dos maiores artistas de fala hispana da história. Para os brasileiros, é aquele cara do dueto com a Paula Fernandes ou com a Ivete Sangalo, quando muito.

Juanes esteve no Brasil em 2012 para uma única apresentação. Única, singular e, infelizmente, sem replay. Naquela noite, há mais de uma década, fãs e convidados se espremeram no Teatro Geo, em São Paulo, para uma exibição de gala promovida para, justamente, dar as cartas de sua parceria com a sertaneja em Hoy Me Voy. E depois virou pó.

E olha que estamos falando de um dos artistas latinos com mais entradas em trilhas sonoras de novelas globais, talvez a maior abertura possível em um país que nunca entendeu a música de seu continente além das próprias fronteiras. Por aqui, o que faz sucesso ainda é o estereótipo.

J Balvin tem o Allianz Parque à sua disposição; Juanes, quiçá, jamais volte ao Brasil.

Quando um artista dessa magnitude chega, bate à porte, entra, mas não permanece, é sinal de que as engrenagens estão funcionando de forma equivocada. Por engrenagem aqui entenda o trabalho de promoção desperdiçado em nomes da moda, não com aqueles que transformaram o mercado em moda, mesmo que por um parco momento.

Para não sermos tão injustos, Juanes teve lá sua segunda chance quando enveredou para o mundo urbano. É possível que tenhamos ouvido La Plata tocando em alguma loja de departamento há quatro ou cinco anos. Mas quando essa é a métrica de reconhecimento, algo sempre esteve muito errado por aqui.

Gris, o single publicado nesta semana, é o segundo de seu próximo álbum, que chegará ao mercado no fim de 2023. O primeiro, Amores Prohibidos, foi aclamado por público e crítica. Fora do radar da gravadora no Brasil, é claro. Por aqui, Juanes só vai servir para um feat aqui, outro acolá, e olhe lá.

O tema é íntimo e introspectivo: fala sobre as dificuldades de uma relação longeva em tempos de pandemia. O colombiano está casado há 22 anos com Karen Martinez, mãe de seus três filhos: Paloma, Luna e Dante.

“Uma das coisas mais difíceis da vida são as relações humanas. Há pouco mais de um ano, tive uma situação complicada com minha esposa, estamos casados há 22 anos, temos três filhos adolescentes e começamos a discutir por certas formas de penas. Muito pela situação imposta pelo isolamento da Covid. Foram momentos de muita confusão, chegamos a pensar que nossa relação teria acabado. Houve uma discussão forte, dias de muita frustração. A arte e a música chegam a ser uma catarse e uma cura. Essa música fala desse momento tão duro que vivi do ponto de vista mais poético, artístico e conceitual. Por sorte, conseguimos seguir adiante, como muitas vezes aconteceu em nossas vidas. É uma das minhas melhores canções, definitivamente”, contou o astro, em um dos relatos mais sinceros já vistos em uma indústria de aparências.

Música é amplitude em vários sentidos da palavra. Está tudo bem gostar de Zona de Perigo ou Ai Papai. Música é resistência, representatividade. É festa. Mas também tem seu lado profundo, sentimental. A representatividade de emoções. E está tudo certo gostar desse tipo de música também.

O que não pode é uma obra-prima ficar relegada a nada, ao mais absoluto vazio, ao gris, ao cinza, ao vácuo, por pura falta de investimento, estratégia ou dinheiro.

Se você teve Juanes em seu país e o deixou escapar por entre os dedos, sem volta, é porque não entende nada de música.

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