Quem ouve Funk Generation não imagina que por trás do álbum coeso e explosivo, transpirando brasilidade em vários idiomas, esteja a versão mais serena da Anitta. Aos 31 anos, fala pausada, calma, articulada, ela é o contraponto dos proibidões que viraram trend mundo afora nesta sexta-feira, 26 de abril, data do lançamento do projeto.

A artista recebeu a imprensa, de forma virtual, para falar sobre o disco no início da tarde. “Vocês não têm ideia do quanto eu briguei para conseguir colocar esse trabalho na rua. (briguei com) Gente grande, gente que coloca grana. Para mim, ele estar na rua já é uma celebração”.

A viagem proposta por “Funk Generation” começa fazendo referência aos primórdios da cena funkeira. A inaugural “Lose Ya Breath” explode em arranjo inspirado no miami bass e no electro, subgêneros da música eletrônica que inspiraram a criação do gênero brasileiro. Aqui, a cantora convida o ouvinte a embarcar em uma jornada de tirar o fôlego. É o baile começando. E Anitta cumprindo sua missão de ensinar gringo a fazer funk.

“Grip”, a faixa seguinte, se inspira nessa mesma sonoridade, desta vez com uma letra sensual sobre uma figura feminina que domina a cena. A canção é um dos carros-chefes do álbum e ganha videoclipe inspirado nas festas de rua características das periferias brasileiras.

Gravado em um galpão no Rio de Janeiro, o audiovisual envolveu 180 pessoas em sua produção e foi dirigido pela GINGA Pictures – que colaborou com Anitta em videoclipes como “Funk Rave”, “Boys Don’t Cry” e “El Que Espera”.

Outras faixas, como a explosiva “Savage Funk”, apresentam Anitta misturando seu ritmo base com referências da música eletrônica. Aqui brilha a influência do rave funk, muito popular no estado de São Paulo. 

“O beat é um dos elementos mais importantes do funk. Tipo aquele grave que bate e faz tremer até a alma, sabe?”, conta Anitta. “É por isso que algumas músicas do disco tem umas batidas mais loucas… Eu quis provocar essa sensação nas pessoas”.  No papo com jornalistas, ela brincou sobre a polêmica da letra: “A gente tentou encaixar várias outras palavras, mas no fim nada ficava bom. E quando essas letras são cantadas por homem, nunca tem tanta militância. Quando a mulher o povo fica “olha a mensagem que tá passando”. Eu não estou nem aí, quero mais é me divertir. As mensagens que eu quero passar eu passo na minha vida real”.

“E todo mundo f0de pra c******, todo mundo transa”. A música que eu faço é pra dançar, se divertir”, riu a funkeira. As letras sobre sexo marcam forte presença em “Funk Generation”. “Essa coisa da sexualidade explícita, sem papas na língua, é muito característica do funk. E acho que, quando nós mulheres cantamos sobre isso, a música se torna uma forma de libertação, né? A minha ideia é inspirar a sermos sexualmente livres”, comenta. 

“Esse álbum não poderia ter saído em nenhum outro momento da minha vida justamente por isso: não ligo para o que falam. Se for sucesso, ótimo. Se não for, eu me diverti. Precisava estar nesse momento”.

“Cria de Favela” exemplifica a complexidade descrita pela artista, com produção dançante, graves pulsantes e quebras inusitadas. Por sua vez, “Sabana” explode aos ouvidos, empregando, de forma surpreendente, um sample de “Pelada”, do goiano MC Jacaré.  A carioca revelou que essa é uma de suas faixas favoritas do álbum. “Essa é pra dançar. A Larissa escolheria Love In Common”.

Em “Puta Cara”, por exemplo, a girl from Rio assume o comando na cama, falando abertamente sobre como gosta de explorar sua sexualidade. Na já lançada “Double Team”, em parceria com Brray e Bad Gyal, ela escancara seus desejos sem medo: “Sou bem puta, mais cachorra que o Rintintin”, canta. 

Refletindo sobre um relacionamento em que ela quer apenas curtir, sem compromisso, “Fría” é outro retrato de protagonismo feminino: “Você deixou claro que não te faço bem / Mas o proibido te faz querer mais”, ela brinca na faixa, que é marcada por elementos do tamborzão.

Amores, flertes, encontros e desencontros também são narrados em algumas das produções mais melódicas do trabalho, como “Meme”, “Love in Common” e “Mil Veces” (funk melody que remonta aos primeiros singles da carreira de Anitta). Por sua vez, o dueto com Sam Smith, “Ahi”, combina uma melodia pop chiclete com as batidas do ritmo brasileiro. 

Já “Aceita” esbanja versatilidade: aqui, características de funk carioca e reggaeton se misturam, em uma canção em que a poderosa se apresenta como uma entidade, que sai pelas ruas celebrando seus feitos. “Saí da favela /  Pareço novela / Itália, tomando chá com Donatella / Música, filmes, show, passarela”, ela versa. Anitta contou que essa música terá um clipe com o candomblé, sua religião, como pano de fundo e tentará mostrar as ruas do Rio de Janeiro sem “folclorização”.

Para garantir a autenticidade, Anitta fez questão de recrutar parceiros artísticos brasileiros para construírem este álbum com ela. O DJ Gabriel do Borel, conhecido por diversos sucessos da cena funkeira, é um dos principais colaboradores da obra (produção musical e composição). “Ela está escrevendo um novo capítulo na história da música brasileira e é muito gratificante poder fazer parte disso”, celebra o produtor. 

Os músicos da Brabo Music também foram escolhidos para colaborar no disco. E festejam a parceria com a cantora: “Foi um mergulho ao passado, sem tirar os olhos do presente e futuro. As faixas que produzimos são uma espécie de ‘carta de amor’ nossa ao funk, a todo mundo que veio antes da gente”, divide o representante do time, Rodrigo Gorky. 

Outros nomes nacionais, como o duo Tropkillaz (que colaborou com Anitta em hits como “Vai Malandra” e “Bola Rebola”), o ganhador do Grammy Latino Márcio Arantes e o paulista DJ GBR também fizeram parte do registro.

Nomes internacionalmente renomados, como Diplo (de produções com Madonna e Justin Bieber), Stargate (Mariah Carey e Rihanna) e Julia Lewis (Bad Bunny, Peso Pluma), por sua vez, promovem o encontro do funk com sonoridades globais na tracklist.

Anitta pensa em pausa após turnê de Funk Generation

“Eu estou pronta para esse momento. Considero meu trabalho completo, poderia descansar por muito tempo e passar o bastão para outro (…) Já me sinto livre pra isso. Posso parar a qualquer momento, vai do meu estado emocional”, contou Anitta aos jornalistas nesta sexta-feira.

Ela disse ainda que pensou que morreria no início da produção do disco. “Estava doente, não sabia, acho que até hoje não sei, o que tive. Fiz exame para câncer. Então, eu pensei em deixar o melhor álbum da minha vida aí, já que morreria mesmo, pelo menos todo mundo falaria bem”.

Bem humorada, a cantora ainda falou sobre o investimento que fez para lançar Funk Generation: “A gente trabalha para gastar, não é para guardar. No céu a gente não vai usar dinheiro mesmo”.

Anitta terminou a entrevista pedindo união entre os funkeiros brasileiros. “Eu vejo os artistas latinos, uns apoiam os outros, se um está mal, outro vai lá e chama para uma música, tenta levantar o colega. Em algum momento eu já fiquei magoada (com as críticas de artistas do gênero), agora eu não ligo mais. Vai chegar o dia em que haverá o grupo”.


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