24 horas após os ataques racistas sofridos por Vinícius Júnior no confronto do Real Madrid contra o Valencia, no Estádio Mestalla, o silêncio da classe artística na Espanha é ensurdecedor. O LatinPop Brasil fez um levantamento nas redes sociais de 23 cantores espanhóis nesta tarde: nenhum havia se manifestado contra o racismo.
Alguns dos quais, inclusive, já fizeram questão de ser fotografado ao lado do ídolo brasileiro.
Alvaro Soler, Alejandro Sanz, Pablo Alborán, Pablo López, Manuel Carrasco, Rozalén, Aitana, Alfred García, Beret, Melendi, Andrés Ceballos (ex-Dvicio), Quevedo, Natalia Lacunza, Dani Martín, Leiva, Blas Cantó, Barei, Blanca Paloma, Chanel, Abraham Mateo foram alguns dos perfis visitados pelo site.
Negro, o vencedor do Operación Triunfo Famous também não escreveu nenhuma linha sobre o caso. Agoney fez publicidade do jogo do Barcelona da mesma rodada em parceria com o Spotify para promover o single Quiero Arder, mas tampouco falou sobre o assunto.
A exceção, talvez, tenha ficado com Rosalía. Embora não tenha nada em seu próprio perfil, ela curtiu comentários contra o presidente da La Liga, que disse ser injúria as afirmações de Vini Jr. de que a Espanha é uma sociedade racista. O caso é manchete em todos os veículos de comunicação da Espanha. A menos que tenham sido abduzidos, todos sabem o que aconteceu.
Muita gente vai apontar senões. Eles fazem música, não precisam se meter em questões sociais. Nem devem acompanhar futebol. Cada um no seu quadrado. E por aí vai. Um monte de desculpas vazias que só ratificam a postura pós-jogo do jovem brasileiro, que cogita deixar o Real Madrid após o ocorrido. Não foi a primeira vez que ele foi atacado por racistas. O mesmo já aconteceu com Daniel Alves. Ou com o piloto Lewis Hamilton. Em um GP na Catalunha anos atrás, algumas pessoas foram vestidas de macaco e na camiseta levavam a inscrição “Família de Hamilton”.
Racismo.
Racistas.
Se calar diante de barbáries como essa não é o caminho. Se distanciar da questão social menos ainda. Não ser negro, não ser jogador de futebol, torcedor, o que seja, não te exime da responsabilidade social.
Você pode cantar, mas precisa conscientizar. Ah, os militantes. Sim, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista, já diria a filósofa Angela Davis.
Muitos desses artistas compram causas como feminismo, violência de gênero, mesmo sem que estejam em “seu lugar de fala”. Então, por que seria diferente agora?
Não importa o tamanho do seu público, se você conseguir chegar e mudar o pensamento de 1, 10, 100 fãs, já terá cumprido seu papel. Mas é preciso atuar, sair da zona do conforto do silêncio, manifestar. Como pessoas públicas, se indignar dentro de casa não é uma possibilidade.
Racismo não é aceitável em nenhuma estrutura social, artística, cultural. Racismo não é aceitável. Ponto.
Obviamente, chama atenção o fato de apenas um desses artistas citados ser negro. Afirmar o pacto da branquitude poderia parecer exagero, mas alguém encontra outra explicação?
Ou eles estão de acordo com Vini Jr. de que são oriundos de um país racista, ou precisam falar sobre o racismo estrutural de seu país. Ou uma, ou outra. As duas coisas ao mesmo tempo não conversam entre si.