Shakira, Luis Miguel e Chayanne têm em comum mais do que talento, fama e fortuna: todos foram atrás de advogados do Panamá e das Ilhas Virgens para comprar mansões, registrar iates e administrar quantias milionárias no esquema chamado de Pandora Papers.
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Na investigação global, também figura o nome de Julio Iglesias. A situação das celebridades latinas foi esmiuçada pelo El País nesta quarta-feira, 6 de outubro.
Pandora Papers: o que é?
Pandora Papers é o conjunto de 11,9 milhões de documentos filtrados coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês). Na operação, profissionais da imprensa analisaram e publicaram histórias de interesse público a partir de 3 de outubro de 2021 sobre dados de offshore de personalidades, políticos e milionários que podem ser enquadrados em crime de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
Ao todo, mais de 2,9 terabytes de documentos foram analisados, em um trabalho superior ao do Panama Papers, de 2016.
Os veículos expuseram a investigação de “segredos financeiros” de 35 líderes mundiais e mais de 330 personalidades. Além de Shakira, Chayanne, Luis Miguel e Julio Iglesias, nomes como o rei Abdala II, da Jordânia; o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis; os presidentes de Chile e Equador, Sebastián Piñera e Guillermo Lasso; além de Ringo Starr (Beatles), Elton John, Mario Vargas Llosa, Claudia Schiffer, entre outros, “esconderam” dinheiro e patrimônio em paraísos fiscais.
O Ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, também apareceu no Pandora Papers.
Chayanne
Élmer Figueroa, nome de batismo de Chayanne, aparece como dono da Fentress International SA, uma sociedade panamenha que o autorizava a fechar contratos internacionais sem abatimento de impostos até 2013, quando foi dissolvida.
Nos arquivos também existem documentos bancários e comprovantes de domicílio ligados a Chayanne aportados para a criação de uma companhia na Flórida, Eloisa Investments LLC, por meio do despacho panamenho OMC Group. Maria Elizabeth Figueroa, sua esposa, é acionista da empresa. Anna Maronese, cunhada do artista, aparece como diretora. A sociedade é proprietária de um apartamento avaliado em US$ 500 mil no Hilton Grand Hotel, na Bahía Vizcaína, em Miami. O artista porto-riquenho ainda não se manifestou sobre o caso.
Luis Miguel
Já Luis Miguel, segundo o Pandora Papers, formou uma sociedade nas Ilhas Virgens Britânicas em 2013 para comprar o Sky, um luxuoso iate de 25 metros. A embarcação foi adquirida em nome de Skyfall Marine Ltd, na qual El Sol de México é o único acionista. Seu irmão Alejandro Gallego Basteri tem o cargo de diretor.
O Sky tem desenho italiano, quatro camarotes com capacidade para oito passageiros, 25 metros de comprimento e foi objeto de desejo dos paparazzi por anos por ser cenários de suas festas e refúgio durante a pandemia.
Luis Miguel tem histórico de problemas financeiros e judiciais. Em 2017, outro barco seu foi penhorado, apesar da apresentação de um carta em que dizia ter um saldo de mais de seis dígitos na conta bancária. No mesmo ano, ele sofreu três processos por dívidas que superavam US$ 11 milhões.
O intérprete de La Incondicional foi procurado pelo El País, mas não respondeu às solicitações e segue “desaparecido” após a revelação dos documentos.
Shakira
Shakira, por sua vez, é uma das clientes mais notáveis da panamenha OMC. A artista aparece em formulários de solicitação de três empresas de fachada tramitadas nas Ilhas Virgens Britânicas: Light Productions Limited, Light Tours Limited e Titania Management Inc.
As companhias foram abertas em 2019, quando o fisco espanhol já investigava a colombiana por evasão fiscal de 14,5 milhões de euros. Os representantes da artista dizem que, a rigor, as empresas foram constituídas anos antes da residência da Shakira na Espanha e nunca estiveram em atividade. Enfatizaram que a cantora utilizou empresas offshore porque a maior parte do seu faturamento vem de fora da Espanha e asseguraram que o fisco está ciente da situação.
Julio Iglesias
Julio Iglesias também deixou sua marca no setor imobiliário da Flórida. O intérprete investiu quase US$ 112 milhões em cinco propriedades na Indian Creek Island, uma ilha privada de Miami conhecida com bunker dos multimilionários. Seu nome, contudo, não aparece no registro da propriedade: está oculto atrás de cinco sociedades registradas nas Ilhas Virgens Britânicas.
No Pandora Papers, o espanhol está ligado a 19 sociedades no arquipélago caribenho tramitadas pelo despacho Trident Trust. Sua companheira, a holandesa Miranda Rijnburger, é diretora de 15 delas, enquanto ele está à frente de outras quatro. Com uma fortuna estimada em US$ 800 milhões, segundo a Forbes, Iglesias está no grupo com maior quantidade de empresas offshore de toda a investigação.
Russel L. Kink, advogado que assessorou o artista, disse que para alguns residentes estrangeiros nos Estados Unidos é preferível aderir a estas estruturas para evitar a cobrança de 40% de impostos sucessórios, entre outras vantagens.