O dilema do Festival de Benidorm foi basicamente o mesmo do ano passado: apostar na tradição, no folclore e nas raízes, ou apostar em uma fórmula quase matemática para o Eurovision Song Contest? Se em 2022, Chanel foi a diva pop convencional que arrebatou o pódio em Turim, neste ano Blanca Paloma terá a ousadia de levar a Espanha do flamenco para os palcos de Liverpool.
Eaea foi a canção escolhida por júri e público no último sábado, em detrimento da excelente performance de Agoney com sua Quiero Arder. A questão aqui é simples. A artista de 34 anos pode cair no 8 ou 80, ser amada ou odiada por eurofãs. Seu concorrente direto ficaria na coluna do meio, não floparia, mas tampouco brigaria pelo título.
Título que pode voltar à Espanha depois de 46 anos. A última vez que o país venceu o festival europeu foi em 1969 com Vivo Cantando, interpretada por Salomé. O troféu foi dividido entre quatro países naquela ocasião. Os espanhóis celebraram uma dobradinha, já que um ano antes Massiel também levou a competição com La La La.
Inacreditavelmente, essas são as duas únicas vitórias espanholas no Eurovision. O país sempre esteve atrás nas tendências, copiando o que dá certo em edições anteriores e, quase sempre, brigando pela lanterna na tabela, poucas vezes ousou estar na vanguarda. Convenhamos, o flamenco tem o respeito da indústria, mas nunca foi um gênero comercial. Também tem dificuldades para cair no gosto popular. É algo tão espanhol que, muitas vezes, dizem que só outro espanhol é capaz de apreciar as batidas tradicionais e as vozes rasgadas do ritmo tão tradicional da região da Andalucía.
A última vez em a mescla da cultura cigana, mourisca, com influências judaica e árabe competiu no ESC foi há 40 anos, com péssimas lembranças para os espanhóis. Remédios Amaya recebeu 0 pontos com ¿Quién maneja mi barca?. Depois do fracasso em Munique, a Espanha foi lugar comum no Eurovision.
Mas, vamos lá: entre 1983 e 2023, o festival europeu passou por uma revolução. Especialmente depois da vitória de Jamala, em 2016, com a política 1944, não existe fórmula ganhadora. A tese foi comprovada no ano seguinte com Salvador Sobral (Amar Pelos Dois) e o primeiro triunfo português na competição.
Talvez seja esse o segredo do sucesso. Sem equação, sem resultado exato. Pode-se vencer o Eurovision com rock, com pop, com ironia ou poesia. E com flamenco também. Blanca Paloma levará ao palco britânico um vocal impecável e uma cenografia decisiva para o antagonismo de fã ou hater entre os fãs musicais mais exigentes do mundo. E também os que mais gostam de fugir de estereótipos.
Até agora, são sete músicas oficialmente apresentadas ao público. As preferidas são Eaea, Queen of Kings (Noruega) e Carpe Diem (Eslovênia). No fim desta semana serão 14, incluindo a mais esperada: a vencedora do Festival de Sanremo, que será escolhida no sábado.
O tamanho do sucesso de Blanca Paloma no Eurovision 2023 ainda é incógnita, mas sua escolha é a mais corajosa do país em muitos anos. E só por isso já deve garantir, no mínimo, um TOP 10 no certame europeu. A certeza é que indiferente ninguém vai ficar.