Esse título pode até parecer uma afirmação arriscada, mas se o protagonista não fosse um artista latino, não haveria contestação. Imagine se DeBí TiRaR MáS FoToS fosse um álbum lançado por Taylor Swift, Beyoncé ou, sei lá, Bruno Mars? Todo mundo saberia o destino de todos os próximos Grammys. Mas estamos falando de Bad Bunny que, embora seja reconhecido muito além das fronteiras de Porto Rico, entregou o trabalho mais cheio de latinidade de toda a sua carreira.

É uma reflexão de muitas camadas. A primeira é a controvérsia sobre o quanto a origem do artista interfere no olhar dos críticos. Quantos vão se dar ao trabalho de analisar letra a letra o disco publicado no último dia 5 de janeiro? Ou vão buscar o significado da capa, tão simples e tão cheia de significado, que expõe a dualidade da sensibilidade x super produções.

Segundamente: o mercado de números, de quantidade, de lançamentos frenéticos, é a erva daninha dos tempos modernos na música. Bad Bunny, tão acostumado a lançar dois discos por ano, se deu ao bel prazer de sentar, respirar e pensar em um conceito para o seu projeto. O resultado foi uma história contada faixa a faixa, com coesão, profundidade e essência, muito, mas muito acima do que ele já havia feito desde que explodiu no início da década.

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É a primeira vez que a gente analisa El Conejo Malo fora da caixinha do fenômeno do streaming. É a primeira vez que ele se permite ser analisado dessa forma.

“Sou porto-riquenho, sou caribenho e minha música, minha cultura, minha história e a da minha terra correm no meu sangue, do pleno ao reggaeton”, acrescentou Benito. “No momento mais alto da minha carreira e de maior popularidade quero mostrar ao mundo quem sou, quem é Benito Antonio, quem é Porto Rico. O melhor ainda está por vir.”, disse o artista ao apresentar a obra.

Não foi um comunicado vazio à imprensa. Foi quase uma confissão sincera de que o restante da sua discografia foi construído à base do que os outros queriam ouvir, não daquilo que ele queria falar. E, que fique claro, não foi uma estratégia errada, longe disso. Outro dia, a jornalista Carol Prado definiu muito bem a carreira de Bad Bunny:

“Acho que ninguém na indústria entendeu melhor que o Bad Bunny como a farra, a esbórnia e a depravação são também identidade e resistência”, escreveu a profissional do G1 no X (antigo Twitter).

DeBí TiRaR MáS FoToS tem tudo isso e uma indescritível sensação de pertencimento. É um disco redondo, sem falhas, como há muito tempo não se via no mercado latino, quiçá global. As divas pop e os astros dos charts vão precisar de muito esforço para gerar o mesmo alvoroço nesta temporada de lançamentos. Se forem espertos, abandonam a concorrência e deixam os holofotes merecidos para o porto-riquenho.

Porque se houver justiça nos atribulados bastidores da música, vocês vão se lembrar desse texto no anúncio das principais premiações deste ano. Ainda é janeiro, dia 9, mas Bad Bunny já lançou o melhor álbum de 2025.

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