O vídeo ganhou o título: “J Balvin Ou Como Não Fazer um Cover do Metallica”. A publicação está no canal de Shauntrack, músico multinstrumentista, produtor, compositor e licenciado em Magistério de Educação Musical na Espanha.
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Com todo respeito à formação e ao eruditismo que ela confere ao autor da crítica, a verborragia em cima da versão do colombiano para Wherever I May Roam, um dos clássicos do repertório do grupo norte-americano, é puro suco de higienização musical e superioridade cultural que acompanha boa parte dos amantes do rock.
Quem escolheu J Balvin para o projeto, certamente, sabia que ele não daria ao tema a mesma roupagem original. O check, muito provavelmente, veio da banda liderada por James Hetfield, negacionista confesso – isso sim digno de críticas.
O latino tem sido enxovalhado por ter sido convidado a fazer aquilo que sabe. E que fez de maneira correta, palatável a vários públicos, e com uma qualidade lírica como há muito não se via em seu repertório.
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Se o catálogo do Metallica é imaculado, então deveriam repensar um álbum que traz Juanes e Mon Laferte, alinhados à veia metaleira, e nomes como J Balvin e Ha*Ash, por exemplo, que circundam em um mundo muito distante musicalmente da banda.
No lugar da crítica agressiva e fora do tom, a inclusão de artistas capazes de fazer o intercâmbio entre várias camadas da indústria musical deveria ser alabada. A ousadia de Balvin, idem.
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Não é fácil mexer em hits, em clássicos, mas a ideia do The Blacklist é justamente abrir as fronteiras do rock a públicos diferentes. É dar às músicas de 20, 30 anos, uma nova cara. E tudo bem se há um sample do Metallica em meio ao trap colombiano. E tudo bem se Ha*Ash impuseram sua maneira quase sertaneja de cantar a The Unforgiven.
Os músicos, certamente, estão se deliciando com a amplitude de seus versos e melodias. Ao fazerem a escolha de elenco, não esperavam nada diferente disso.
Os gritos puristas vêm de ouvidos engessados, de um elitismo musical e cultural que deve ser combatido. O festival de grosserias nos comentários que acompanham o vídeo – já com quase 1 milhão de acessos – idem.
Não é questionar como Metallica teria permitido ou chancelado a versão, é questão de rever conceitos e pensar as razões que levam o público do rock a ser tão preconceituoso com qualquer coisa que fuja de seu estereótipo.
Assim, o mundo do rock escancara sua pequenez com o callejero que se atreveu a tocar suas entranhas.