A pandemia atrasou o Festival de Sanremo em um mês. Tradicionalmente disputada na primeira semana de fevereiro, a competição musical foi transferida para 2 de março de 2021 e presenciaria a partir daquela data uma edição histórica: a que consagraria Måneskin como o maior fenômeno musical da Itália.

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E esse relato, agora, se torna pessoal. Ainda era dezembro de 2020, muitas incertezas sobre a Covid-19, quando Sanremo anunciou seus participantes para a edição do ano seguinte, pela segunda vez sob o comando de Amadeus.

Nesta casa, com o sobrenome que assina a matéria, seguimos o festival e programas musicais italianos com afinco. Não foi diferente com The X Factor Italia de 2017, cuja final assistimos em Florença com uma final inusitada, para dizer o mínimo. As férias familiares cederam espaço para ver Lorenzo Incitra sagrar-se campeão naquele ano, contrariando as previsões que colocavam Måneskin como vencedor do programa. E a história demoraria um pouco para fazer justiça a Damiano, Victoria, Thomas e Ethan.

Em um dos episódios, me lembro de Fedez (coach naquele ano) dizer ao crooner do grupo: “Você tem muita arrogância musical. E eu gosto disso”. Nunca mais me esqueci da definição.

Foi essa arrogância que me fez dizer, ainda em dezembro de 2020, que os roqueiros ganhariam o Festival de Sanremo e, consequentemente, o Eurovision Song Contest. Foi uma aposta caseira, porém arriscada. À época, a banda já tinha dois álbuns no mercado, mas ainda figurava na cena alternativa da música na Itália.

Conhecidos, com certeza. Famosos, talvez, Celebridades… ainda não. Embora Chosen (2017) e Il Ballo Della Vita (2018) tenham alcançado relativo sucesso radiofônico, ainda faltava muito para alçá-los à elite da indústria local. Mérito de Amadeus, o diretor artístico de Sanremo, sempre atento à margem do mainstream.

Voltemos à noite de 2 de março de 2021. Pela primeira vez, Måneskin apresentou seu single sanremense, Zitti e Buoni, com uma conexão imediata com o público, mas não com a crítica. Ousado demais. Transgressor demais. Arrogante, assim como seu intérprete, demais. Passaram quase todo o festival dentro do TOP 10, mas não como favoritos.

Fórmula perfeita para o Eurovision, à frente do tempo para Sanremo. No dia, eu pensei exatamente nesta equação. O Ariston de tanta história musical não se renderia aos pés de algo tão fresco como o quarteto. E deixaria a Europa distante. O festival foi avançando, o tema foi ficando cada dia mais popular, e foi impossível ficar indiferente ao que estava acontecendo naquele palco. Não apenas pelo perfil da banda, também pelos concorrentes. O mesmo Fedez que outrora avaliava o trabalho deles estava na disputa ao lado da “veterana” Francesca Michielin. Assim como Ermal Meta, campeão em 2018.

O anúncio do Måneskin como vencedor do Festival de Sanremo com Zitti e Buoni, que integra o disco Teatro D’Ira Vol. 1 aconteceu em 6 de março, mas seu sucesso começou a ser traçado há exatamente um ano. Depois do evento italiano veio a Europa. Depois da Europa, o mundo. Os números não mentem: 285 milhões de streams no Spotify, 124 milhões de views no clipe oficial e 82 milhões de acessos no vídeo da apresentação final do ESC.

Enquanto representava a Itália no Eurovision, o quarteto viralizou no TikTok, conquistou o Velho Continente, chegou às Américas e se transformou no produto de origem latina mais representativo no mundo. Virá ao Brasil para o Rock in Rio. Já esteve e estará nos principais festivais do ano. E não importa qual seja a música do repertório do Måneskin nos charts, Zitti e Buoni sempre será lembrada como o início de tudo, da virada, da consagração. Da história sendo escrita diante dos nossos olhos – e torcida.

Relembre clipe de Zitti e Buoni, do Måneskin

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