Como fonte inesgotável de notícias para nós é maravilhoso o anúncio de que o Eurovision Song Contest terá uma versão na América Latina. Como oportunidade de expansão da marca, também.

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Imagine que sensação indescritível falar sobre o festival além dos nossos pequenos e reservados grupos de “eurofãs”?

Passados os primeiros dias de euforia, vêm as reflexões: vai vingar ou seremos uma cópia do que aconteceu nos Estados Unidos neste ano, cuja edição de estreia foi com Deus antes mesmo de começar? Quer dizer, rolar até rolou, mas alguém sabe dizer o que aconteceu?

O modelo do Eurovision passa por muitas questões além da música e do entretenimento. O fator social e político sempre permeou o evento, inclusive na diversidade de propostas ou artistas. A forma como olham para o festival lá no Velho Continente é, por assim dizer, mais liberal, dando esse adjetivo apenas como uma contextualização literal, não política.

Será que algum dia os latino-americanos, da salsa ao reggaetón, do samba à cumbia, conseguiriam entender In Corpore Sano, da Konstrakta, representante da Sérvia neste ano? Seríamos capazes de apreciar – e exaltar – Verka Serduchka, da icônica Dancing Lasha Tumbai, por anos a fio? O beijo lésbico de Krista Siegfrids no fim de Marry Me, em 2013, sobreviveria à sociedade machista – mais machista do que nos outros lugares – da América Latina?

Difícil imaginar que os shows aqui serão como os de lá, e não por duvidar da nossa imensa capacidade de produção. É cultural. O medo é que caiamos em um modelo enfadonho como foi o americano, candidato a flop do ano. As performances serão adaptadas à nossa realidade, às nossas raízes, ao nosso mundo.

E aí vem outro questionamento: o Eurovision que aprendemos a amar sobrevive sem a farofa bem-intencionada de Suzy em Quero Ser Tua daquele jeitinho português de farofar? Como seria a reação do público a um Conan Osíris quebrando Telemóveis latino-americanos? Os eurofãs tiveram de ampliar seus horizontes musicais antes de se tornarem eurofãs. A fórmula do Eurovision é não ter fórmula, algo que aqui nessa parte do mundo não é muito bem-vindo.

Tanto que que escutamos reggaetón por anos a fio porque todos os artistas do mercado decidiram ceder ao modismo. O que dá certo, a gente repete, recicla, até saturar. Esse é um dos grandes temores sobre o Latinvision: que se torne um reggaetónvision. E o fim dessa história seremos nós, eurofãs brasileiros e latinos, continuando dentro da bolha porque o conceito original do Eurovision tem grandes chances de não vingar por aqui.

As seletivas, o nascimento de novos artistas… a magia do Eurovision é só daquele original. Muito surpreenderá – positivamente, é claro – se o produto que sair daqui for tão redondo como o de lá. Será que, com medo do fracasso, grandes artistas recusarão o LESC? Ou verão nele uma oportunidade de sair da caixinha?

Esse texto é do começo ao seu quase fim uma sucessão de perguntas exatamente porque não dá para saber o que pensar sobre a ideia. Nem vasculhando muito é possível encontrar um latino-americano (eurofã) 100% feliz ou 100% descontente com a ideia. No perfil do Eurovision no Twitter, por exemplo, é muito mais fácil achar europeus curiosíssimos com o que vai acontecer por esses lados do planeta.

A ideia de expansão da marca, com a manutenção do nome original, pode ser considerada um erro? Outra questão. Fizeram o mesmo na Ásia. Não funciona.

E, por fim, quantas fichas apostamos que o primeiro vencedor sairá de Colômbia ou México, porque a fórmula está pronta para nossos gostos e ouvidos?

Com tantas interrogação, definitivamente, não dá para saber se foi uma tacada de mestre. Tampouco se será um fracasso. Mas para nós que transitamos entre os dois mundos é, sem dúvida, um anúncio esperançoso. Pode vir, Eurovision (melhor Latinvision). Ainda não de braços abertos, mas estamos curiosos à sua espera.

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