Oi Jão,

Você (ainda) não me conhece. Sou jornalista e trabalho com música há 12 anos, sendo os último oito dedicados integralmente ao mercado latino – hispânico e italiano. Antes, minha editoria era Esportes. Longa história de mais de duas décadas.

Em todo esse período, a minha playlist era composta quase 100% a canções em espanhol ou italiano. Em português, só quando eu revisitava minha infância ou adolescência.

Até ouvir Olhos Vermelhos.

Parte importante desse relato: tenho uma filha, Laura, de 14 anos. Como qualquer mãe de 42, sou inserida no mundo contemporâneo / pop / trend por ela. Uma noite, em plena pandemia, ela me mostrou um vídeo no YouTube em que você interpretava essa música. “Mamãe, ouve! Você vai amar o Jão!”.

Laura me conhece como poucas pessoas no mundo. Sem qualquer tipo de julgamento a gêneros musicais ou artistas, ela ouviu repetidamente meu discurso de que música, para me conquistar, precisa contar uma história. Naquela noite, passeamos juntas pelo seu repertório e eu pude conhecer a sua história. Afinal, é isso que você faz com suas letras. Tem prosa e poesia. Tem resenha e risada.

Lembro como se fosse hoje de falar que adoraria sentar num bar só para bater um papo contigo.

Não sei exatamente em que ponto estávamos da abertura dos eventos, mas não demorou muito para que ela me falasse sobre a turnê Pirata. Maio, no Espaço das Américas, foi nosso primeiro encontro. Houve outros dois ao longo de 2022: um em agosto, outro em novembro.

As amigas dela foram. Minha mãe foi. As mães das amigas dela, da minha geração, também.

Muitas coisas me chamaram atenção e coisas que vão além da potência vocal, da cenografia, das infinitas avaliações positivas e técnicas. O que me marcou foi um discurso sobre lugar seguro. Porque ele é, ao mesmo tempo, amplo e certeiro. Naquele lugar, naquele momento, todos estamos bem.

Olhos Vermelhos é a favorita dela. As minhas são VSF e Essa Eu Fiz Pro Nosso Amoressa eu fiz pra sua mãe só porque ela é tão linda, e sempre sabe o que dizer. Nem sei quantas vezes usei essa frase como uma espécie de “escuta o que eu tô falando”. E foram outras muitas conversas no jantar sobre como suas letras podem parecer de jovem para jovem, mas todo mundo se identifica. “Mãe eu nunca fui santo…”

Corta para a semana passada.

“Mamãe, o Jão vai lançar álbum”. “Mamãe, vai ter audição no Ginásio do Ibirapuera no domingo, Dia dos Pais”. “Mamãe, tem que conseguir ingresso!”. “Papai, tudo bem se eu passar o segundo Dia dos Pais seguido com o Jão?”. Quase imperdoável ter dito a ela que seria tranquilo conseguir o ingresso, afinal era audição, não show e blá blá blá. Foi aos 47 do segundo tempo, mas deu tudo certo.

Corta para a profissional.

Já tinha ficado muito impressionada com a velocidade do sold out. Poucas coisas se comparam à boca aberta quando vi a estrutura montada no ginásio, o entorno, o marketing. Não sei se você conhece, mas existe um festival europeu chamado Eurovision Song Contest (de onde saíram Abba, Mäneskin, Celine Dion, e muitos outros). Fomos na edição de 2022, em Turim, cujo palco tinha água ao redor para espelhar as performances, igual ao show de luzes de ontem. Lá eles falharam miseravelmente. Aqui…

Toda essa carta para chegar nesse ponto.

Jão, você é hoje o maior artista pop do Brasil.

E logo vai ganhar o mundo.

Pra mim, aqui está a sua principal qualidade: a coragem de ousar. A coragem de não cair na síndrome de vira-lata que nos consome em qualquer área da vida – a grama fora do Brasil está sempre mais verde. Artistas como você comprovam que a história não é bem essa.

Não sei quantas audições, eventos pre listen, eu tenho no currículo. Nenhuma se compara ao que vi – e ouvi – ontem. Superlativa, assim como o nome do disco. E com uma simbiose artista, música, público e mercado que só os escolhidos conseguem.

Não vou dar spoiler sobre o álbum, afinal faltam poucas horas para que Super, enfim, chegue ao mercado. Na minha opinião, o melhor dos quatro.

Viver do pop, fazer pop, chartear com pop por aqui não é fácil. Foram anos ouvindo a indústria musical brasileira sobrevivendo de nichos, até me alijar totalmente dela. Até voltar a ela com alguém capaz de criar um selo único para aquilo que produz. A música do Jão é pop, mas é… jão! Quase um gênero novo, revolucionário, abundante. A maior dualidade disso tudo é que esse gênero bebe da fonte do descomplicado, da simplicidade na composição, facilitando o entendimento, amplificando o consumo.

Se alguém chegou até o fim, ouça Super.

Se essa carta chegou ao Jão, o recado final: você é foda!

Nos vemos no Allianz Parque em janeiro!

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