Antes de falar de Shakira ou Bad Bunny, aqui vai um relato muito pessoal: vocês sabiam que a ideia do LatinPop Brasil surgiu como um festival de música latina? Foi assistindo ao Rock In Rio 2011 que essa editora que vos escreve começou a rascunhar o projeto, lineup e saiu em busca de parceiros. Uma gravadora topou na hora o sonho megalomaníaco e colocou seu catálogo à disposição. O Memorial da América Latina foi o local escolhido para receber o evento em 16/12/12. Estava tudo verbalmente acertado, mas faltava o principal: dinheiro.
Foi então que eu percebi que para ter o meu sonho, precisava antes provar que esse mercado existia, que os fãs eram engajados e que seria possível tirar o projeto do papel. E assim o LatinPop Brasil deixou de ser um festival e virou o primeiro site hard news de música latina do país.
É importante contar essa história por alguns motivos. O primeiro deles é que estamos prestes a completar dez anos no ar, em 9 de fevereiro. Um feito para quem capinou muito mato antes de ver Bad Bunny ou Rosalía,, e tantos outros artistas, furarem a bolha. A cada novo nome que explodia, como Maluma e J Balvin, parecia que o festival ficava mais perto. E quando veio a febre Despacito, então, era quase real, questão de tempo.
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As gravadoras passaram a pedir consultoria à equipe do LP para mapear o mercado latino no Brasil. Quem eram os artistas favoritos do público e onde estava esse público.
E agora vamos ter uma conversa séria, você e eu, leitor do site. Porque o esforço parece ter sido em vão quando vocês não são fazem Shakira, a dona da coroa desse mercado, exibir um sold out em dois shows. O RBD conseguiu, a colombiana não. O quinteto (trio, sabe-se lá o que são agora) é o único fenômeno que se sustenta comercialmente por aqui. Fazer show custa caro. Assim como, a gente sabe, sai caro para os fãs. E essa conta não fecha nunca.
Mas não adianta bradar nas redes sociais pedindo um show do Bad Bunny se a maior de todos os tempos tem ingresso com desconto para encher show. Se Enrique Iglesias vem ao Brasil e os bilhetes são distribuídos na porta do Espaço Unimed para parecer que a casa encheu. Se o show do Luis Fonsi esgotou, no máximo, metade dessa casa. Se CNCO lutou para encher a Audio em sua despedida. Se a Karol G não teve mais do 60% da capacidade do Centro Esportivo Tietê em uma das maiores turnês latinas da historia. Se a Mon Laferte ficar esquecida no churrasco em março.
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São tantos “ses”…. a conclusão é uma só: enquanto os fandons brigam, perdem a oportunidade de fomentar o mercado de shows latinos no Brasil. Se um não lota, a produtora vai torcer o nariz para apostar em outro nome latino. Não é uma equação difícil.
Sabem há quantos anos o Alejandro Sanz não faz shows por aqui? Já entramos na segunda década sem ver o espanhol em ação no Brasil. Aliás, ele até veio fazer participação em um show da Ivete Sangalo no Allianz Parque há cinco ou seis anos. Entre o público, reclamações porque ele não cantou Corazón Partio, “a única famosa”. Já existe toda uma geração que desconhece seu talento e seu legado. E se a Shakira precisar desse esforço descomunal para lotar dois shows, vai acontecer o mesmo.
De novo: não adianta pedir o nome da moda se vocês não são capazes de entender que estamos no nicho do nicho. Mercados nichados são difíceis e precisam de corporativismo. Tem que apoiar o ídolo do coleguinha, ir aos shows, tacar stream nas lendas.
Caso contrário, o festival da Priscila Bertozzi vai ser sempre o sonho que ficou lá em 2011. E vocês vão precisar continuar viajando a outro país para verem seus ídolos.
Não adianta pedir Bad Bunny sem antes esgotar a Shakira. Não é frase solta, é conselho de quem já viveu de tudo um pouco nesse mercado. Lotem Las Mujeres Ya No Lloran World Tour. Façam muito barulho para la loba. Depois, a gente volta a conversar.