Não tem Coraline ou Parole Lontane. Mas tem um Måneskin que sabe, como nunca, rir de si mesmo. Os fãs que estavam muito acostumados à profundidade tiveram, desde Mammamia, um longo caminho para se acostumar a uma nova roupagem de Damiano, Victoria, Ethan e Thomas.
O mercado internacional exigiu a mudança e o quarteto abraçou o desafio. Rush!, o quarto projeto discográfico do grupo, chegou ao mercado na noite desta quinta-feira (19) dando as cartas de uma etapa divertida. O grande mérito desse álbum, talvez, seja o fato de falar sobre assuntos contemporâneos, fortes, com leveza.
Não dá para exigir do fã conservador o abraço instantâneo. É preciso dar tempo para digerir o salto de popularidade e a consequente mudança de rumo que quiçá seja perene ou apenas uma carta de apresentação ao mundo sem a etiqueta made in Italy grudada na testa. Rush! é, sem dúvida, um disco global.
Måneskin de olho no futuro
Para quem, pacientemente como eu, teve tempo de deglutir faixa por faixa, o projeto discográfico é enigmático e, no tempo certo, transgressor. Seria confortável para o Måneskin ficar dentro da caixinha que o levou ao sucesso mundial. Sobreviver da fórmula que já tinha dado certo. Transgressor e corajoso, porque agora só existem dois caminhos: marcar seu nome na indústria musical ou ficar perdido no lugar comum do modelo americano de fazer música e voltar com uma inevitável sensação de fracasso ao mundo anterior.
Se tivesse de apostar, colocaria minhas fichas na primeira hipótese. Porque Måneskin é algo que vai um pouco além da música. É social, comportamental. O que eu disse ainda em 2020, quando eles foram anunciados como participantes do Festival de Sanremo, ainda é válido: Måneskin é puro frescor em um mercado tão inacreditavelmente cheio de regras.
Rush! tem grandíssimos acertos, como The Loneliest, Supermodel, Timezone, Il Dono Della Vita e Mark Chapman, as últimas em italiano. Tem um flerte com o passado em La Fine. Mas, sobretudo, olha para presente e futuro. É um disco para ser executado ao vivo, para grandes públicos, em grandes espaços.
Todo esse texto para dizer que, no fundo, Måneskin é seu frontman, arrogante e sexy, e os três músicos desafiadores em sua essência, muito além das letras. Não importa se vai ser o álbum favorito de A ou B, o que vale é saber que fizeram aquilo que tinham vontade de fazer. Se reinventaram. E, assim, entregaram tudo.