Pode colocar duas décadas de sucesso na conta do RBD. De sucesso, não, aliás, não sejamos econômicos nas palavras. De fenômeno. Show atrás de show sold out no tempo em que estiveram ativos, um acontecimento muito além da música. Do comportamento à moda, Anahi, Dulce María, Maite Perroni, Christopher Uckermann, Christian Chávez e Alfonso Herrera, mesmo que ausente atualmente, moldaram a vida de algumas gerações.

Corta para 2023. O grupo não se reúne há 15 anos para shows. Imagina só a ansiedade de quem acompanhou naqueles áureos tempos por um reencontro. Até o mais leigo em logística e produção cultural seria capaz de colocar no papel que quatro shows no Brasil, em apenas duas cidades, seriam insuficientes.

Mas, por insegurança ou excesso de prudência, o empresário Guillermo Rosas, a organizadora Live Nation e a ticketeira Eventim acharam que estava de bom tamanho para a Soy Rebelde Tour. Se foi por marketing, para dimensionar o tamanho do sucesso, trata-se de uma tática masoquista para os fãs, aglomerados há semanas, sem segurança, em bilheterias físicas com entradas insuficientes.

Um sistema de vendas ultrapassado, que privilegia o acaso, é só a cereja do bolo de uma turnê que tinha tudo para ser o maior case musical do ano, mas está se tornando alvo de críticas, investigação e, por parte dos fãs, de uma ansiedade patológica.

Nas redes sociais, não é difícil encontrar vídeos de cambistas negociando com supostos representantes da Eventim. As imagens provocaram um pedido de explicações do Procon em São Paulo. Nesta sexta-feira, 3 de fevereiro, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) pediu que a empresa seja investigada por suposta comercialização ilegal de ingressos.

Na tentativa de se defender, a Eventim disse o óbvio: a turnê do RBD trouxe uma demanda nunca vista no Brasil, por isso as inúmeras falhas técnicas nos períodos de pré-venda e venda oficiais. Na semana passada, quase 600 mil pessoas estavam na fila virtual para conseguir um lugar nos shows de São Paulo e Rio de Janeiro. Contabilizando os quatro shows já confirmados, fazendo uma conta por alto, é possível dizer que RBD já vendeu cerca de 200 mil entradas em solo brasileiro.

O grupo acumula recordes. A organização, por sua vez, falhas. Guillermo Rosas, em vez de negociar com empresários, foi ao Twitter perguntar aos fãs em quais cidades deve anunciar novas datas. As campanhas pululam nas redes sociais há dias. No mínimo, uma apresentação no Nordeste, outra em Brasília e uma no Sul. No mínimo. Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo comportam outros shows. E por que não uma data em Manaus, agradando o Norte?

O que está acontecendo no Brasil é às claras. O público reclama que, em detrimento de sua principal praça mercadológica, o quinteto privilegia os Estados Unidos, supostamente, em troca de marketing e dólares. Um desgaste absolutamente desnecessário para a imagem do RBD que, à essa altura, deveria estar apenas colhendo os louros do sucesso.

Novas datas são deveriam ser definidas em redes sociais. Deveriam estar previamente negociadas e anunciadas com antecedência para que os fãs pudessem se programar, afinal o deslocamento entre as regiões do Brasil, país de dimensões continentais, é oneroso. Somando o valor dos ingressos, mais hospedagem, o fã está pagando caro demais. Em todos os sentidos. Horas de filas, segurança duvidosa por parte da Live Nation, invasões, ameaças de bomba…. tem acontecido de tudo um pouco nesse enredo dramático de gerações que só queriam desfrutar de sua banda favorita.

Pedidos públicos de desculpas, à essa altura, são insuficientes. É hora de todos sentarem, negociarem e aparecem nas redes sociais apenas quando as datas estiverem fechadas, confirmadas. Chega de sofrimento e ansiedade.

E o mais importante: que os ingressos não caiam na mão de cambistas, que já negociam pela internet um bilhete por, no mínimo, o dobro do valor original. E para ficar mais vergonhoso, os pseudo-comerciantes, têm uma vasta quantidade de lugares nas mãos, em qualquer setor.

Brincar de organizar show é fácil.

Brincar com a emoção de milhares, quiçá, milhões de pessoas, é vergonhoso.

Ninguém respirou RBD por anos para ver seu futuro decidido em enquete de Twitter. Acordem!

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